Opinião
Alerta vermelho no RS: Crise e desamparo em contextos de calamidade
Por Simone C. Frichembruder
Docente do curso de Psicologia da Estácio
Vivemos, nos últimos meses, cenários devastadores e perdas incalculáveis decorrentes das enchentes no Rio Grande do Sul. A mídia, ao longo de dias, retratou as imagens e narrativas dos moradores das margens do Vale Taquari. Entre tantas cenas marcantes, trago a de um senhor que passou a habitar o forro do telhado de sua casa. No aposento, um colchão ao canto e uma cadeira de praia dispostos abaixo das telhas que encobrem parcialmente as ruínas da morada. No quarto improvisado, relata que sua família pede que abandone o local, relutando: "Não, daqui não saio! Eu não saio daqui!". Criado na casa pelos avós, mostra o quadro com a foto deles resgatado dos entulhos.
Ao escutarmos as narrativas dos habitantes da região, chama a atenção o relato das memórias, histórias que os constituem e fazem parte de seus universos. Nossa casa não é um mero conjunto arquitetônico. Michel de Certau ao dissertar sobre os espaços privados, salienta a morada como "aquele lugar para qual é tão bom voltar à noite, depois do trabalho, depois das férias, de sair do hospital ou da caserna". O alerta vermelho está nos indicadores históricos do estado com os maiores índices de suicídio no País e o desamparo dos sujeitos devastados pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
A Revista Lancet, na pesquisa "Fatores associados à mortalidade por suicídio em nível nacional nas Américas, 2000-2019", sob chancela da Organização Panamericana de Saúde (Opas), destaca a necessidade de estratégias de prevenção ao suicídio que estejam atreladas aos fatores contextuais, construídas para além do campo da saúde, associadas e em consonância com setores do Planejamento, Educação, Trabalho, Emprego e pessoas com vivências relacionadas ao suicídio.
Lança-se o alerta vermelho, além das disposições anteriores, com destaque às publicações internacionais que apontam o aumento nos índices de suicídio em contextos de desastres. Para além dos holofotes, emerge a necessidade de implementação de políticas de prevenção ao suicídio relacionadas com o ambiente nos contextos de emergência e desastres naturais.
O escritor Guy Debor, em sua obra intitulada "Sociedade do Espetáculo", argumenta que as relações sociais são pautadas pela produção e consumo de imagens. Nessa perspectiva, há de se considerar os riscos dos refletores focarem novos territórios e o iminente afastamento dos agentes públicos e atores sociais que atuavam no campo iluminado.
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